Cadeia de Valor em Fundos de Pensão
Por Brenda Trajano, atuária da Mirador Atuarial
Cadeia de valor, segundo a literatura, é o conjunto de atividades que atribuem valor ao consumidor final, em um contexto global, incluindo as atividades externas à entidade. Gerar valor, nesse contexto, pode ser entendido como entregar algo de valor ao consumidor final. Assim, as atividades que geram valor são aquelas indispensáveis no processo de formação do produto ou serviço.
Como exemplo, podemos observar o processo de fabricação do papel. Até que o papel A4 esteja pronto e seja comercializado nas papelarias, existe uma sequência de atividades essenciais para sua fabricação, desde o plantio das árvores de eucalipto, passando pelo corte da madeira, tratamento da polpa, transformação da polpa em papel, corte do papel, distribuição dos lotes nas papelarias, até a chegada do papel no consumidor final.
Todo este processo, repleto de etapas, compõe a cadeia de valor do produto. No entanto, nem todas as atividades são efetuadas por uma mesma organização. Há empresas que trabalham somente com o plantio e corte da madeira, e outras com o tratamento da polpa até a distribuição.
Independente da abrangência das atividades da entidade, é crucial que a organização analise a cadeia de valor na qual está inserida, reconhecendo que faz parte de um todo maior, para poder, a partir disso, analisar sua relação com fornecedores chaves e analisar os elos entre as atividades desempenhadas, internas ou externas à entidade.
Aplicando os conceitos de cadeia de valor na realidade de Fundos de Pensão, temos uma visão que vai além da parte interna da entidade, abrangendo o ambiente, ou sistema, no qual ela está inserida. Com isso, é possível compreender o fluxo de atividades desempenhadas pela fundação e por seus prestadores, indicando onde - e como - se situa a entidade dentro da cadeia de valor, de forma que todo o processo de atividades ocorra com o foco principal na geração de valor ao seu consumidor final.
Neste contexto, podemos considerar dois tipos distintos de consumidor final para as Entidades Fechadas de Previdência Complementar: o grupo de participantes ativos, assistidos e pensionistas, cujo produto final é o pagamento de benefícios; e o grupo de patrocinadores/instituidores, cujo produto final é o próprio plano de previdência.
Para os casos dos Fundos de Pensão patrocinados, o produto plano de previdência beneficia a figura do patrocinador em sua política de Recursos Humanos, tanto na contratação (atraindo bons empregados), quanto na retenção (incentivando no comprometimento) e, ainda, na aposentadoria dos colaboradores (como facilitador para a aposentadoria de empregados elegíveis), atuando como um auxiliar do processo sadio de rotatividade da empresa. Nos casos de planos instituídos, o produto plano de previdência beneficia a figura do instituidor na política de captação e retenção de associados, tendo em vista a representatividade do órgão associativo perante seu segmento econômico, e ainda atuando como um mitigador dos riscos financeiros e sociais relacionados àquela categoria representada, especialmente daquelas ligadas aos profissionais liberais.
Para isso, cabem os questionamentos: O que gera valor ao participante? E ao patrocinador/instituidor? Qual é a configuração da cadeia de valor em que a entidade está inserida? Quais atividades que a entidade exerce que estão diretamente ligadas ao pagamento de benefícios? Quais são os fornecedores que, sem eles, o benefício não seria devidamente pago ao participante?
Sabemos que nem todas as atividades desempenhadas pela Entidade estão diretamente ligadas ao pagamento dos benefícios em si. Algumas servem de suporte para que as atividades principais ocorram. Por exemplo, a área de contabilidade, os recursos humanos, ou os serviços jurídicos não são responsáveis pela construção do “produto” das entidades, mas são essenciais para que o processo de geração de benefícios continue operando devidamente.
Para ilustrar, a figura apresenta um cenário simplificado, de um Fundo de Pensão que possui um único plano de benefícios, com somente um patrocinador e quatro fornecedores: serviços contábeis, jurídicos, atuariais e de investimentos. Além disso, neste cenário hipotético, são concedidos apenas os benefícios de auxílio-doença, aposentadoria e pensão por morte.
No cenário ilustrado, a entidade possui, internamente, quatro atividades principais para a manutenção do plano de previdência ao patrocinador e para a geração do benefício aos participantes. Mas, além de suas atividades, para que o benefício seja devidamente entregue pela entidade, são necessárias as atividades desempenhadas pelo prestador de serviços atuariais, por exemplo. As atividades atuariais fornecem subsídios para a atividade de arrecadação (com a apuração do custeio do plano) e de pagamento de benefícios (com a apuração de joias, provisões técnicas, etc.).
Assim, a análise da Cadeia de Valor nos faz refletir sobre as atividades da entidade – e anteriores a ela – sob a ótica do seu consumidor final (patrocinador, instituidor, participante ativo, assistido e pensionista). Traz o entendimento de que o serviço final entregue é construído por etapas, e a sinergia entre estas etapas é fundamental ao processo. Deixa, por fim, a reflexão: Para a cadeia de valor que faço parte, como está o alinhamento entre as atividades que geram o benefício e a expectativa de entrega do consumidor final?