Quem poupa
Encerro aqui uma sequência inicialmente não planejada de artigos questionando por que, onde, quando, como e agora quem deve poupar. As abordagens nunca pretenderam responder tecnicamente tais perguntas, servindo muito mais como ensejos para se conectar a determinadas reflexões.
Por que poupar foi suscitada por citações que colecionei ao longo dos anos. Onde poupar serviu para uma brevíssima análise da natureza jurídica dos planos de previdência complementar aberta, comparando-os aos demais produtos de formação de poupança. Quando poupar passou pelos desenhos estruturais que poderiam alavancar a formação de poupança, com breve passagem pela formação de cultura previdenciária. E Como poupar, citando Frank Ramsay, aproveita conceitos teóricos de economia do início do século XX para tentar entender melhor o comportamento poupador.
Estas perguntas certamente podem ser respondidas de forma mais completa, abrangente e sistemática. Por vezes quase fugi do tema a que eu mesmo dei a entender que estava me propondo a enfrentar. Mas não tive a pretensão nem o tempo para ir muito mais além, talvez tudo isso seja o ensejo para se pensar em um trabalho mais extenso, com metodologia e rigor técnico.
A pergunta sobre quem poupa – ou deveria poupar – pressupõe, antes de tudo, capacidade financeira para tal. É o alvo perseguido por bancos de investimentos e por entidades de previdência complementar. Pode ser de alto, médio ou baixo poder aquisitivo. Apesar de ainda não terem sido criados modelos de alta penetração para os segmentos de baixa renda, parece ser questão de tempo para que esta fronteira venha a ser ultrapassada.
Estamos longe de um único arquétipo de poupador. São de diferentes características geracionais, com comportamentos financeiros e perfis de consumo (presente e provavelmente futuro) distintos. Além disso, estas diferentes personas são contatáveis individual ou coletivamente, conforme segmentos profissionais ou outros vínculos comerciais com capacidade de exploração.
Com diferenças tão significativas de necessidades, de identidades e de capacidades, não é desenvolvendo produtos flexíveis que será possível fomentar crescimento vigoroso nos níveis de poupança dos brasileiros. Sem a criação de um novo pilar previdenciário de formação geral de poupança capitalizada, com cogência de contratação, não parece ser suficiente o mero aumento de liberdade de contratar e de distratar, combinado a alguns incentivos tributários.
Personalização de um produto com elementos coletivos não se confunde com flexibilidade. Estratégia comercial de posicionamento de acordo com o público, combinação de serviços e soluções de renda e de formação de poupança que façam sentido para o cliente, criação de parcerias capazes de complementar demandas, são fatores que estabelecem o DNA do produto, superando a mera oferta passiva de entrada e de saída para o poupador.
Pensemos no mercado de restaurantes. Não basta oferecer a oportunidade de o participante montar o seu sanduíche. É preciso escolher se o foco será vender fast food, à la carte, delivery, alta gastronomia ou lanches leves. Um único restaurante com ponto consolidado ou uma rede que busca expansão. Mesas na calçada, atendimento somente no balcão ou unidades em praças de alimentação de shopping centers.
Ricardo Ehrensperger Ramos